A inesquecível pergunta

O Parnaso de Além Túmulo, com carinhoso entusiasmo de Manoel Quintão, foi lançado em julho de 1932. E no mesmo mês, o padre Júlio Maria, de Manhumirim, em Minas, no seu jornal “O Lutador”, escreveu áspera crítica, condenando o livro e o Médium.

Dentre outras coisas dizia que o Chico devia possuir uma pele de rinoceronte para caber tantos espíritos.

Os comentários irônicos e as acusações gratuitas eram tantos que o Médium, inexperiente e muito jovem ainda, se sentiu demasiadamente chocado e foi constrangido a buscar o leito.

“Então, a luta era aquela? – pensava, com dor de cabeça.

– Valia a pena ser médium e ficar exposto, assim, ao juízo temerário dos outros? Seria justo aguentar aqueles xingatórios quando estava possuído das melhores intenções?”

Por mais de duas horas se via em semelhante contenda íntima, quando viu Emmanuel ao seu lado.

Contou ao Mentor o que se passava e supôs que o espírito amigo o acariciaria sem restrições.

Emmanuel, porém, de pé, com severa fisionomia, falou-lhe firme:
― Mas eu não vejo razão para solenizar este assunto…

― Entretanto, o senhor está vendo… O padre disse que eu tenho uma pele de rinoceronte… – clamou o Médium.

― Se não tem, precisa ter – disse-lhe o protetor – porque se você quiser cultivar uma pele muito frágil, cairá sempre com qualquer alfinetada e não nos seria possível a viagem da mediunidade nos caminhos do mundo…

― Contudo, temos o nosso brio, a nossa dignidade – acrescentou o Chico – e é difícil viver com o desrespeito público.

Foi então que Emmanuel o fitou com mais firmeza e exclamou:

― Escute. Se Jesus que era Jesus, saiu da Terra pelos braços da cruz, você é que está esperando uma carruagem para viver entre os homens?

Quando ouviu a pergunta, o Chico levantou-se de um pulo e começou a reajustar-se.

 

(Do livro Lindos Casos de Chico Xavier – Edição Lake)