Como morrer com educação?

(Pergunta feita à Chico Xavier pelo jornalista Almir Guimarães no programa Pinga Fogo, exibido pela extinta TV TUPI em 1971)

Almir Guimarães:

— Chico, um telespectador, eu não sei se isso aconteceu, pede que você conte um fato ocorrido num avião em que você viajava, cujos motores entraram em pane, e você também como os demais passageiros, o que era perfeitamente natural, entrou em pânico. O que aconteceu dentro desse avião?

Chico Xavier:

— A resposta exige uma atitude talvez de fazer um pouco de humor, mas é verdade o que eu vou contar.

No ano de 1959 eu me dirigia de Uberaba, para onde eu me transferira recentemente, para Belo Horizonte junto da qual está Pedro Leopoldo, a terra onde nasci na presente encarnação. Então o avião decolou de Uberaba e fez uma breve parada na cidade de Araxá. Depois, o avião decolou de novo. Depois de uns 10 minutos, o avião começou a se inclinar para um lado, para outro, às vezes fazia uma pirueta e o pessoal começou todo a gritar e a pedir a Deus, pedir socorro, e eu estou ali acompanhando…

Veio o comandante do avião e disse que não nos impressionássemos, que era um fenômeno chamado “vento de cauda”, e que apenas chegaríamos um pouco mais depressa. Mas algumas pessoas disseram:

— Mais depressa no outro mundo!

Eu então comecei também a me impressionar porque eu não sei qual é o nome técnico da evolução que o aparelho fazia. Uma pessoa entendida em aeronáutica saberá descrever o caso, dizendo os nomes em que um avião roda de cabeça para baixo. E nós íamos e muita gente começou a vomitar e a gritar, apertar o cinto.

Aqueles amigos começaram a orar, senhoras começaram a fazer o terço, e eu observava tudo com muito respeito. Mas, quando vi aquela atmosfera, comecei a gritar também, e pensei:

— Todo mundo está gritando, eu também vou gritar. É a hora da morte. Então comecei a gritar:

— Valei-me, meu Deus!

Comecei a pedir socorro, misericórdia de Deus, mas com fé. Com escândalo, mas com fé… Então nisso, peço até permissão para dizer, ouço alguém dizer assim a um sacerdote católico que estava não muito longe de mim:

— O Chico Xavier está ali, ele é médium e espírita!

E esse sacerdote com muita bondade disse:

— Mas, eu sei que o Chico tem pedido orações em muitos documentos e o Chico está orando conosco no terço.

Eu disse:

— Graças a Deus padre, eu também estou orando.

Mas, comecei a gritar:

— Valei-me, meu Deus!

Então aí entre o espírito de Emmanuel. Parece que é uma coisa de anedota, uma coisa fantástica, mas é a verdade, ele entrou no avião.

Almir Guimarães:

— Mas você viu o espírito entrar?

Chico Xavier:

— Então passou no meio do pessoal e o pessoal não via, como a maioria dos nossos amigos naturalmente não está vendo a presença dele aqui. Então ele me disse assim:

— Por que você está gritando? Eu escutei o seu pedido. O que é que há?

Porque aquilo já tinha mais ou menos 20 minutos, então eu falei:

— O senhor não acha que estamos em perigo de vida?

Ele falou:

— Estão. E o que é que há com isso? Tem muita gente em perigo de vida, vocês não são privilegiados, não é?

— Então eu falei assim: “Está bem, se estamos em perigo de vida eu vou gritar.

E continuei gritando:

— Valei-me, socorro meu Deus!

E o povo todo gritando socorro.

Então ele me disse:

— Você não acha melhor se calar, parar com isso?

Dê testemunho da sua fé, da sua confiança na imortalidade.

Eu disse:

— Mas é a morte, nós estamos apavorados diante da morte.

Ele disse:

— Estão?

— Eu respondi:

— Está bem, eu estou com muito medo e estou apavorado. Como todo mundo eu estou partilhando, eu também sou uma pessoa humana, eu estou com medo também desta hora e de morrer neste desastre.

Ele disse:

— Está bem, então morra com educação. Cale a boca e morra com educação, para não afligir a cabeça dos outros com os seus gritos. Morra com fé em Deus!

Eu disse então:

— Eu quero só saber como é que a gente pode morrer com educação…

 

(Conhecido depoimento público de Chico Xavier. Também pode ser encontrado no livro Pinga Fogo com Chico Xavier – Emmanuel – Edicel)