José Xavier manifesta-se a Chico

Chico contou, certa feita, um fato mediúnico ocorrido em Pedro Leopoldo com seu irmão José, na época já desencarnado.

Dizia-nos o médium que, em sua pobreza, sempre sonhara possuir no quarto uma janela envidraçada, para que pudesse ver coar-se a luz do luar através dela.

Tempos depois, numa noite, quando em prece agradecia a realização do seu sonho, aparece-lhe José. Curvando-se sobre ele que estava deitado, beija-o carinhosamente, fazendo-o sentir a pressão dos seus lábios na face, o que lhe causou estranheza, pois José era muito austero e pouco dado à exteriorização de gestos afetivos.

Observando-o, Chico notou abatimento em sua fisionomia, além de um traço de tristeza, que muito o comoveu.

Decorrido mais algum tempo, Chico, em desdobramento, encontra o irmão já restabelecido. José, então, narra-lhe o porquê de sua melhora.

Durante o período de sua convalescença, no plano espiritual, ele sentia fortes tonteiras, que muito o perturbavam.

Elas não eram senão a consequência de um passado de erros pelos quais haveria de sofrer nesta última existência, acabando por desencarnar perturbado das faculdades mentais.

Mas, devido aos trabalhos a que se consagrara e ao esforço do auto-burilamento, seu quadro de provações sofrera uma mudança. Contudo, restavam-lhe ainda no perispírito as marcas responsáveis pelas suas tonturas.

O irmão de Chico continuou sua narrativa, contando-lhe que, em certa noite, aproximou-se dele um benfeitor que, compadecido, lhe disse:

― José, lembra-se da escolha do nome a ser dado ao centro espírita de Pedro Leopoldo?

Fez uma pausa e continuou:

― Vocês, querendo homenagear Luiz IX da França, guia de Allan Kardec, equivocaram-se ao trocar o nome para o de Luiz Gonzaga, patrono da juventude italiana, cuja festa comemorativa é 21 de junho.

Pois bem, hoje, 21 de junho, em virtude das vibrações que partem da Terra, pelos que o veneram, ele descerá de planos mais elevados para o “vale dos sofrimentos”, em peregrinação de auxílio e socorro. Se você quiser vê-lo, aproxime-se do local por onde deverá passar.

José assim fez. À hora aprazada, aproximou-se do local onde, em duas alas, grande multidão aguardava a elevada entidade.

Eis que, em dado momento, uma intensa luz encaminha-se para o ajuntamento, deixando todos extáticos. Acompanhado de um séquito de nobres espíritos, Luiz Gonzaga passa entre as alas.

Tal era a vibração que José, quando se curvava em lágrimas, viu diante de si generosa mão que sustinha um lírio luminoso, cujo perfume, aspirado num só impulso, fê-lo sentir-se imediatamente curado.

Em seguida, acompanhou o séquito, feliz, entre os penitentes do “vale dos sofrimentos”.

Admirado, pôde ainda notar que muitos deles “apanhavam” com as mãos a vibrante luz, que emanava daquele insigne Espírito, e “passavam-na” pelas suas úlceras ― como se ela fosse um fluido ― o que lhes propiciava alívio e consolo.

Ao terminar a narrativa, Chico tinha os olhos marejados de lágrimas, como a reviver a emoção do comovente relato que o irmão lhe fizera.

 

(Do livro Inesquecível Chico – Romeu Grisi/Gerson Sestini – Ed. GEEM)