O Chico que conheci

Ela amanhecera saudosa, pois já havia transcorrido um ano sobre o desditoso acontecimento familiar: o suicídio de seu filho.

E, por isso, desejava algo fazer que amainasse a dor da saudade e trouxesse reconforto a ele e ao seu coração.

Impelida por este sentimento, procura o filho mais velho e expõe o seu desejo:

― Hoje, como você sabe, completa-se um ano do desencarne de seu irmão.

Depois de um significativo e doloroso silêncio, ela continua:

― Eu gostaria de fazer alguma coisa em seu nome. Você sabe que ao cemitério não vou porque lá se encontra apenas o sepulcro vazio.

Endereçando o olhar súplice ao filho que lhe restava, pergunta-lhe:

― O que você sugere que eu faça?

Procurando atendê-la, ele indaga:

― Mamãe, qual é a casa assistencial da cidade que a senhora mais aprecia?

E enfatizando o desejo de ajudá-la:

― Qual a que mais lhe toca o coração?

De pronto ela responde:

― Filho, é o asilo de velhos.

― Então, mamãe, leve alguma coisa que a senhora julgue útil aos velhinhos.

Ela se encaminha logo em direção a uma “máquina de arroz” ― estabelecimento onde se beneficia o cereal ― localizada na periferia da cidade. Lá, solicita que beneficiem uma saca do grão escolhido e aguarda o processamento. Em seguida contrata uma charrete e segue para o asilo com a dádiva.

Sabedor do drama daquela mãe, Chico, desincumbindo-se dos compromissos que o retinham, dirige-se de carro até a casa de caridade a fim de encontrar-se com ela. Quando a divisa, a certa distância, eis que o médium, através da vidência, narra ao amigo que o acompanhava:

― Vejo, partindo do coração de nossa irmã, ao efetuar a entrega da saca de mantimento ao funcionário do asilo, um fio de luz que se projeta na direção do filho suicida; neste momento ele esboça um leve e primeiro sorriso…

Estas cenas, narradas a nós, passaram-se em Uberaba, nos primeiros anos da década de sessenta e diziam respeito ao irmão suicida de um companheiro do Chico.

Muitos espíritos que se comunicavam através do médium, ainda presos aos últimos acontecimentos de sua partida, observavam que as lágrimas de revolta de seus afins caíam sobre eles como gotas de fogo, aumentando-lhes o sofrimento no estado em que se encontravam.

Essa senhora, consciente de que flores no túmulo não lhe acalmariam o saudoso coração, procurava um meio de demonstrar seu amor pelo filho, que se adaptava no Além.

Inspirado, o filho mais velho encontrou a solução, conduzindo-a para aquele sublime momento: a transformação do amor maternal, estendendo-o para os irmãos em humanidade. Formou-se assim o fio de luz que a ligou ao querido filho.

 

(Do livro Inesquecível Chico – Edição GEEM)