Gênio enfermo

(Versos ao culto amigo que espalhava ateísmo e violência, através da palavra falada e escrita, na última década do século XVIII, suscitando rebeldia e delinquência, e que, presentemente reencontrei, na condição de espírito em reajuste, na provação da idiotia.)

Lembro-te, caro amigo… O gênio agindo às cegas,
Lanças violência e fel nas multidões que arrastas.
Ouço-te na memória as negações nefastas…
Escreves e destróis… Falas e desagregas…

Quanto crime a surgir dos princípios que pregas!…
Um dia, vem a morte ao campo que desgastas…
No Além, sofres a culpa de que não te afastas,
Rogas socorro ao Céu nos grilhões que carregas…

Agora reencontrei-te em aldeia remota.
Habitas outro corpo e choras mudo e idiota…
Ah! Quanto sinto a luta em que te vejo imerso!…

Mas louva a provação que te aponta o futuro.
Na dor, terás de novo o pensamento puro,
Refletindo, em ti mesmo, as bênçãos do Universo.

Epiphanio Leite
(Do livro Caminhos de Volta – Edição GEEM)


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