Dona Babita
Contou-nos Chico que, certa noite, em torno de duas horas da madrugada, sentiu-se fora do corpo. Em seguida encontrou-se num local do espaço, em outro fuso horário, pois, ali já era de manhã, por volta de sete horas.
Era uma região, em que o sol refletia singular luz resplandecente, com tons prateados. A vegetação constituída de arbustos de tamanho mediano mostrava um verde muito suave.
Ele e seu irmão José, que estava a seu lado, caminhavam vislumbrando a paisagem naquela hora matutina. Eis que em dado mo-mento se deparam diante de um povoado com as casas dispostas em torno de um templo, que posteriormente vieram a saber, consagrado a Francisco de Assis.
As construções, no entanto, não tinham o formato das casas conhecidas, mas de pequenos edifícios agrupados, aparentando ter cada um quatro pavimentos, separados por quebradas em diferentes níveis, algo difícil de ser descrito.
Ambos observavam o local, quando reconheceram uma senhora amiga, que residira em Belo Horizonte e lá tinha ainda duas filhas. Era dona Babita.
Ela se admirou de vê-los juntos e exclamou surpresa:
― Sei que José veio para o lado de cá há tempos, mas não sabia que você, Chico, também havia chegado!
Ao que o médium lhe respondeu:
― Pois é, minha filha, do jeito que eu ando de saúde, eu nem sei se já vim ou não…
E assumindo um tom jocoso:
― Bem, pode ser que isso tenha acontecido e eu não saiba.
Observando-a melhor, notou que Dona Babita trazia na mão um grande rosário, pois era muito religiosa. Ela lhes disse ainda:
― Sei também que vocês professam o Espiritismo, mas eu continuo católica. Enquanto minhas filhas permanecerem na Terra, não mudo de religião.
Narrando estes fatos, Chico dizia-nos:
― Como Deus não força nenhum de seus filhos a mudar de ideia, nossa irmã continuava com a sua fé, vivendo numa comunidade católica.
E acrescentou:
― Quando, porém, a criatura modifica suas concepções e decide mudar-se, ela se despede dos amigos e vai para outra região. Isto sucede também com os padres.
Esta última assertiva fez-nos lembrar de Monsenhor Gonçalves, mencionado em algumas mensagens de familiares e amigos que residiram em São José do Rio Preto.
Ao perguntarmos sobre ele que era tido como severo, e até temido por alguns fiéis quando atuava como Vigário Geral da paróquia de nossa cidade, informou-nos Chico:
― Ele é um grande trabalhador da região de Rio Preto.
Continua firme, auxiliando o seu rebanho. Até ao umbral ele desce para socorrer seus paroquianos…
Com essa notícia sobre Monsenhor Gonçalves, Chico dava-nos o ensejo de observar o quanto poderemos nos enganar ao fazer diferentes juízos sobre as pessoas, sem lhes conhecer o mundo interior.
Dona Babita continuava no mesmo esquema de vida que tivera quando Chico a encontrou, mas Monsenhor Gonçalves achava-se em planos mais altos do que se poderia supor.¹
¹ Referências a Monsenhor Gonçalves (Joaquim Manoel Gonçalves) são encontradas no livro Vida no Além, F.C.Xavier, Caio Ramacciotti, Espíritos Diversos – GEEM – 1980.
(Do livro Inesquecível Chico – Romeu Grisi/Gerson Sestini – Ed. GEEM)