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Revista Comunicação #211 – Janeiro/Março 2015

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Editorial

As ásperas lutas de Publius Lentulus ao tempo de Jesus de Nazaré

Difícil ocultar, caro leitor, nossa imensa simpatia pelo romance autobiográfico de Emmanuel, Há Dois Mil Anos (1), em que o benfeitor veste a roupagem física do senador romano Publius Lentulus. Os seus demais romances, também recebidos pelo Chico, são belíssimos, mas as vivências descritas pelo ínclito patrício impressionam muito. Em resumo, essa magistral obra destaca:

O sonho de Publius Lentulus

A vida do senador foi repleta de lutas intensas, que se iniciaram a partir do seu sonho premonitório, descrito no início do livro e revelado ao colega de senado Flaminius Severus, e persistiram até sua morte em Pompeia, no ano 79 de nossa era.

O sonho o leva a um passado de quase cem anos, e o faz retornar ao tempo de Cícero e Catilina — este representante da escuridão, e aquele expressão da luz no então grandioso Império Romano.

A enfermidade de Flávia

A grave moléstia da filha o conduziuà Palestina, levando-o a ter inolvidável contato com Jesus em entardecer inesquecível, na acolhedora Cafarnaum, situada às margens do Mar da Galileia.

Lá, nas terras de Jerusalém, teve o filho raptado. Não fosse o bastante a tortura de não encontrar o filho, Publius ainda acreditou em sórdida trama que o fez crer na traição de Lívia. Por insinuação de uma pessoa próxima da família, foi levado a vê-la no gabinete de Pilatos, e imaginou-a ignorando os compromissos conjugais. Na verdade, ela ali estava para interceder pelo Cristo, prestes a ser torturado até a morte no Gólgota.

Cedeu à força da calúnia e isolou-se da cara esposa, o anjo que desceu dos Céus para acompanhá-lo em sua missão na Terra.

A perda da esposa

Após o retorno a Roma, Lívia desprendeu-se do invólucro físico na terrível perseguição de Nero aos cristãos, justamente quando Publius preparava a sonhada reconciliação com a esposa, pois se apercebera de que a lirial companheira era inocente. A morte de Lívia ocorreu no exato momento em que Publius receberia do infeliz César as homenagens por suas nobres funções de senador da República.

Após as cerimônias no Circo Máximo, intuindo que algo acontecera com Lívia, já que há dois dias ela desaparecera de casa, Publius deixou a residência no Palatino, uma das sete colinas de Roma, a fim de procurá-la.

Um singelo camafeu, encontrado nos arredores do Circo Máximo, denunciou-lhe que Lívia, convertida ao Cristianismo, fora brutalmente martirizada pelo desonrado imperador, em sua inclemente perseguição aos discípulos do Mestre.

Encontro com Paulo de Tarso

Convivendo com a dor da perda de Lívia, o senador encontra Paulo na Roma, que brilhava em grande fastígio, na condição de capital do mundo conhecido. Era o centro de um império que tinha a extensão da metade do Brasil.

O inusitado e casual diálogo com Paulo de Tarso, ditado por Emmanuel a Francisco Cândido Xavier nos idos de março de 1940, consta do livro de Clóvis Tavares, Amor e Sabedoria de Emmanuel (2).

Conta-nos Emmanuel que, quando encarnado como Publius Lentulus, teve contato com Paulo de Tarso na Porta Appia, a antiga Porta Capena, um dos inúmeros acessos à muralha edificada por Servius Tullius, séculos antes de Cristo.

Eis o seu relato:

Conheci-o, em Roma, nos seus dias de trabalho mais rude e de provações mais acerbas. Vi-o uma vez unicamente, quando um carro de Estado transportava o senador Publius Lentulus ao longo da Via Appia, mas foi o bastante para nunca mais esquecê-lo.

Um incidente fortuito levara os cavalos a uma disparada perigosa, mas um jovem cristão, atirando-se ao caminho largo, conseguiu conjurar todas as ameaças. Avistamos então um pequeno grupo, onde se encontrava a sua figura inesquecível.

Trocamos algumas palavras que me deram a conhecer a sua inteireza de caráter e a grandeza de sua fé.

O fato ocorria pouco depois da trágica desencarnação de Lívia, e eu trazia o espírito atormentado. As palavras de Paulo eram firmes e consoladoras.

O grande convertido não conhecia a úlcera que me sangrava no coração, todavia as suas expressões indiretas foram, imediatamente, ao fundo de minh’alma, provocando um dilúvio de emoções e de esclarecimentos.

Lembra-nos o saudoso Clóvis Tavares que esse surpreendente encontro marcou profundamente o coração de Emmanuel.

O próprio local em que ambos se avistaram tem especial significado evangélico, pois foi pela Porta Appia que Pedro buscou deixar Roma, rumo da Palestina, que sonhava rever.

Viviam-se os dias tormentosos do ano 64 de nossa era, em que Nero incriminou os cristãos pelo incêndio, por ele mesmo inspirado, na capital imperial. Ao abandonar a cidade, Pedro divisou o Mestre, dirigindo-se a Roma. Surpreso, indagou-lhe:

— Quo vadis, Domine? (Para onde vais, Senhor?).

E o Mestre respondeu:

— Pedro, vou a Roma para ser crucificado novamente!

A inesquecível pergunta e a resposta de Jesus fizeram-no, de imediato, retornar à cidade aturdida pela violência das chamas e permanecer junto aos cristãos. Os culpados, na pusilânime decisão do imperador, foram os inocentes cristãos.

Em Roma, Pedro foi crucificado com a cabeça voltada para o chão, em dia próximo ao da morte de Paulo que, por ser cidadão romano, teve o estranho privilégio de deixar a Terra decapitado…

Conta-nos Emmanuel, em Há Dois Mil Anos, que, no momento de sua execução, ante a indecisão do algoz, Paulo o encorajou a aplicar a pena que lhe arrancou a lúcida cabeça. Seu martírio se deu no ano 64 de nossa era, pouco tempo depois do encontro com Publius Lentulus.

Nova visita à Palestina

O senador, mais tarde, em 69, voltouà Palestina a pedido do novo imperador, Vespasiano, seu amigo pessoal, para importante missão junto ao filho Tito.

Lá, já sabemos, Publius ficou cego pelas mãos de seu próprio filho, raptado na primeira viagem que fizera ao tempo do Cristo para buscar a cura de Flávia.

Marcos, agora adulto, cujo nome fora trocado para Ítalo pelo algoz André de Gioras, em comovente encontro com o velho pai, reconheceu-o no fundo da alma, e vacilou. Mas, instado por André, que o escravizara, fez a lâmina incandescente penetrar os olhos de Publius, tolhendo sua visão para o resto da vida.

Restou-lhe apenas voltar a Roma e, já envelhecido, acolheu-se em Pompeia a pedido da filha Flávia. Lá encontrou a morte física, sepultado pela lava e pelas pedras, que o Vesúvio lançava com desmedido furor, sobre a encantadora região da Campânia.

A lava do vulcão inundou sua vivenda, atolando de destroços o implúvio do átrio. O tremor da terra e a inclemência da erupção vulcânica destruíram o triclínio e o tablino, restando, soterrados sob o encantador peristilo, somente scombros, que escondiam as flores que Ana e Flávia cultivavam.

Sua pequena família, ou melhor, o que dela remanesceu dos tempos gloriosos de outrora, foi sepultada com ele: Flávia, Ana e o genro Plínio.

Paulo, Emmanuel e os séculos vindouros

O encontro entre Publius e Paulo de Tarso na Porta Appia, próximo às colinas do Palatino e do Célio, foi a complementação do diálogo com Jesus trinta anos antes, em Cafarnaum, quando o procurou para pedir pela saúde da filha Flávia.

Paulo acompanhou o espírito de Emmanuel através de sucessivas reencarnações de extrema renúncia, em que o velho senador buscou, no apostolado, superar o remorso pelo sofrimento que impusera a Lívia.

Ao lado do apóstolo dos gentios, Emmanuel participou da codificação kardequiana. É de sua autoria a mensagem sobre o egoísmo que encontramos no capítulo XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Orientando Chico Xavier desde 1931, Emmanuel foi o enviado de Jesus que divulgou o Cristianismo Redivivo na Terra, a partir das sublimes lições que nos chegaram pelas mãos do médium de Deus.

Cremos que Paulo tenha sido, ao lado de Lívia, o grande professor de Emmanuel na Espiritualidade, no que tange ao Evangelho e à propagação da mensagem de nosso Divino Mestre, sedimentando-se entre ambos profundos laços de amizade e gratidão.

Entre as tantas coisas que enriquecem nossa vida, talvez a melhor seja o benefício que o tempo nos concede. Ao longo do caminho somos defrontados por pequenos momentos, aparentemente casuais, mas que transformam nossas existências.

Nesse sentido, cremos que o primeiro encontro entre eles, na Porta Appia, tenha sido o princípio de uma ligação que iria preparar Publius Lentulus para dar continuidade à tarefa incansável de Paulo na divulgação dos ensinamentos de Jesus.

Somente após quinze séculos de lutas e dolorosos compromissos, o velho senador sentiu-se em condições de servir a Jesus e sacrificar-se por amor ao Mestre — do mesmo modo que o fizera em Roma a companheira do coração.

Renascendo como Manuel da Nóbrega, abraçou a Pátria do Evangelho no seu nascedouro, iniciando-se então a gigantesca tarefa de evangelização do povo brasileiro.

Os vínculos de gratidão ao apóstolo Paulo sempre se mantiveram. Exemplo desse eterno reconhecimento foi ter o jesuíta dado o nome de São Paulo à cidade que edificara com Anchieta nas terras de Piratininga.

Sua fundação oficial poderia ter ocorrido antes, mas Nóbrega esperou até 25 de Janeiro, dia de São Paulo, para fazê-lo, em preito de apreço e gratidão ao apóstolo da gentilidade.

Nóbrega foi o autor do primeiro livro escrito no Brasil, o que ocorreu em 1554, e, em homenagem a Paulo, deu-lhe o título de Diálogo sobre a Conversão do Gentio.

Através do livro espírita e da mediunidade de Chico Xavier, Emmanuel foi, ao longo do século passado, o organizador da imensa tarefa de esclarecimento e difusão do Evangelho, assim como Paulo de Tarso divulgou o Cristianismo junto aos povos de sua época, especialmente entre os gentios, nas memoráveis viagens pela Ásia Menor, Balcãs, Península Ibérica e Roma.

Flávia e Marcos

Apesar de sempre lembrados em Há Dois Mil Anos, pouco se fala a respeito dos filhos de Publius e Lívia. Sobre Marcos já mencionamos o rapto e a consequente escravidão. Flávia, a doce criatura que somente sofreu na vida, foi o anjo tutelar do pai nos últimos tempos de sua existência, assistindo-o em Pompeia, quando da erupção do Vesúvio.

Suponho que, ao ser curada por Jesus em Cafarnaum, Flávia teria escrito e arquivado em sua mente o despretencioso poema que resumia aqueles raros momentos de felicidade em sua vida de amarguras:

Poema de Flávia

Cafarnaum, Cafarnaum, o tempo passa…
Presa ao leito, envolvida em chagas,
Penso em ti, Mestre de Nazaré!
— Dizem que és bom e rogo que me tragas

A cura dos males que me destroçam
A esperança, os sonhos e tudo o mais.
Quero ver meus pais, Senhor de Nazaré,
Felizes e juntos nos colóquios matinais.

Oh! Por Júpiter, o que acontece?
Sinto mão diáfana e iluminada
Tocar-me a fronte com leveza.

Minha mãe e Ana às lágrimas, de joelhos,
Agradecem a Jesus. Estou curada?
Senhor, dá-me esta certeza!

 

Caio Ramacciotti, dezembro de 2014
Livros citados: 1 (ed. FEB) e 2 (ed. Calvário)

Emmanuel e Nóbrega

Cneius Lucius

Amparado pelo Apóstolo dos Gentios, conseguiu Publius Lentulus transitar nas avenidas escuras da carne, em existências várias, até encontrar uma posição em que pudesse servir ao Divino Mestre com o valor e o heroísmo daquela que lhe fora companheira no início da Era Cristã.

E assim temos em Manuel da Nóbrega o homem de raciocínio elevado entregue a si mesmo em plena selva, onde tudo estava por fazer. Noutro tempo, os livros prontos e as tribunas construídas, os direitos de família pré-estabelecidos e o dinheiro fácil, a sociedade constituída e o pedestal do poder para brilhar.

Aqui, porém, eram a improvisação necessária e o deserto, as inibições do corpo deficiente que lhe apagavam a voz de tribuno, a insolência do selvagem recordando as feras do circo, à frente do qual devia imolar-se, consumindo as próprias forças para dar-lhe uma vida nova.

Surgiram ainda a devassidão e o crime, a ignorância e a audácia, os perigos mil que o hábil político transformado em missionário deveria vencer, exibindo não mais a toga do poder e as armas de seus guardas pessoais, e sim o sinal da cruz, sem mais ninguém que não fosse a sua pertinácia nos compromissos assumidos.

Entretanto, superou os óbices de toda espécie, lutou, sofreu e venceu, insculpindo, com os poderes da ideia cristianizada, um povo diferente e um novo mundo dentro do mundo.

Nóbrega podia ter vivido isolado no seu tempo. Contudo, desde cedo agregaram-se a ele multidões de amigos exaustos de mando, de poder e dominação. E a teia dos destinos vai convertendo em trabalho para a coletividade tudo o que era cristalização do eu, em
luz quanto era sombra, em liberdade espiritual o que era cárcere físico.

Da rocha surge o diamante no curso dos milênios. Também a luz divina fluirá de nós um dia, quando a escória estiver abandonada no carvão que servirá de berço a outros diamantes no curso longo e paciente das eras.

O serviço do nosso amigo está longe de acabar. É preciso criar espírito para o gigante – costuma ele dizer.

O gigante é a terra em que hoje nos situamos, e o espírito é a luz com que devemos continuar erguendo os padrões de fraternidade
mais alta e de mais avançado serviço com Jesus no Brasil todo.

Prossigamos marchando à frente!

Anos e dias correrão. Estejamos certos da brevidade de tudo o que se movimenta sobre a terra, para agirmos com segurança e paciência.

Para construir é preciso lutar. E para colher é indispensável haver semeado.

 

(Do livro Diálogo dos Vivos – Francisco C. Xavier /J. Herculano Pires/ Espíritos Diversos, Editora GEEM)

Notícias

Nosso Compromisso com Chico Xavier

De 22 a 31 de agosto realizou-se a 23ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo (SP). O GEEM esteve presente, consoante suas disposições estatutárias que definem como precípuas a divulgação da Doutrina Espírita, codificada pelo Mestre de Lyon, através da vida e obra de Francisco Cândido Xavier.

Durante os dez dias da Bienal nosso stand esteve sempre repleto de pessoas de todas as idades: crianças, jovens, adultos, profissionais de áreas diversas, com especial destaque para a presença de professores que acompanhavam seus alunos de escolas públicas da capital.

Milhares de livros foram veiculados. As fotos que apresentamos a seguir esclarecem bem as razões de nossa euforia.

Obrigado, querido Chico. Sentimos muitas vezes sua presença, transformando aquele pedaço de 30m2, em acolhedor recanto de preces e alegrias espirituais.

GEEM Grupo Espírita Emmanuel
São Bernardo do Campo (SP), janeiro de 2015

GEEM na Bienal

Nossas Atividades

I – Departamento Editorial Batuíra

Divulgação da vida e obra de Francisco Cândido Xavier
– Livros e Revista Comunicação®
– Centro de Estudos Chico Xavier
– Divulgação Braille Casimiro Cunha

Reuniões Espíritas:
– Centro Espírita Maria João de Deus
São Bernardo do Campo (2ªs e 6ªs às 20h)

Programa No Limiar do Amanhã (sábados às 19 horas)
– Rádio Morada do Sol São Paulo-SP – (AM-1260 khz)
– Rádio Morada do Sol Araraquara-SP – (AM-640khz)

II – Departamento Filantrópico Nosso Lar

Atendimento a famílias e gestantes:

Internet: www.geem.org.br
E-mail: geem@geem.org.br
Telefones: (11) 4109-7960 e (11) 4109-7122

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Diretor: Caio Ramacciotti
Jornalista Responsável: Mário Augusto R. Vilela
Colaboração: Vivaldo da Cunha Borges – in memoriam

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Matrícula – Lei de Imprensa/sob o nº 41.071

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