Revista Comunicação #223 – Outubro/Dezembro 2017

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Caridade em Jesus

Nesta edição da revista Comunicação, dedicamos algumas páginas a um espírito por quem Chico jamais escondia seu profundo respeito: Joana, a louca, ou, melhor dizendo, Joana, a desventurada, rainha de Espanha no século XVI.
Culta, a ponto de falar com naturalidade o latim, bondosa, médium de excepcionais predicados, viveu longa existência de sofrimentos e profundo isolamento.
Entendemos que falar de Joana, que não era louca, significa um presente de Natal a ela e também a Chico Xavier, que me ensinou a respeitá-la qual uma das mais marcantes personalidades da história ocidental. O texto que apresentamos a seguir foi, em essência, baseado no que Chico me relatou sobre ela, com o complemento de alguns dados históricos.
Esta edição tem mais: a coluna tradicional da revista, A Palavra de Emmanuel, nos enseja profunda reflexão sobre o Natal de 2017, que se aproxima. O erudito Benfeitor, que acompanhou Chico ao longo de sua existência, nos regala com oportuna mensagem, que denota os exemplos de caridade vivenciados pelo Divino Mestre.
Neste Natal, como ocorre desde 2002, não teremos a presença física de Chico Xavier na Colônia Santa Marta de Goiás, em que, acompanhado de Francisco de Assis, osculava com imenso carinho nossos irmãos albergados, eivados dos efeitos corrosivos da moléstia a lhes deteriorar o corpo físico.
Contudo, do Plano Espiritual Chico e o ‘Poverello’ da Umbria descerão aos recantos da Terra, onde irmãos, muitos da estatura espiritual de Jésus Gonçalves, contemplam seus corpos danificados pelas duras provas da hanseníase.
Desejando a todos os leitores um Natal de paz e harmonia e um Novo Ano abençoado pelas lições do meigo nazareno, agradecemos a atenciosa acolhida à revista Comunicação em seus 50 anos de vida editorial.

GEEM GRUPO ESPÍRITA EMMANUEL
Caio Ramacciotti – Presidente
São Bernardo do Campo, outubro de 2017.

A Palavra de Emmanuel

(O pensamento do mentor espiritual de Chico Xavier a respeito de temas da atualidade: conselhos e ponderações sobre as atribulações de nossos tempos.)

Caridade em Jesus

Recorda a caridade, a irradiar-se em bênçãos do excelso amor de Cristo, para que te não faltem compreensão e força, no culto edificante à caridade humana.

Enjeitado no frio pelas próprias criaturas, a quem vinha trazer a luz da redenção, não vacila em acolher-se à manjedoura pobre em extrema renúncia.

Atendendo aos enfermos de todos os matizes, não lhes nega assistência, dando-lhes alegria e equilíbrio, movimento e visão.
Procurado por mestres e pescadores simples, insufla-lhes no ser a luz da verdade, habilitando-os todos para a Vida Maior.

Ante a aflição da turba que o seguia irrequieta, multiplica o alimento que lhe sossegue a fome.

Entre o insulto dos maus e a deserção dos bons, sabe entregar-se, em paz, sem mesmo justiçar-se.

Preterido em juízo por rude malfeitor, não se desmanda em queixa.

E, conduzido à morte sob golpes na cruz, longe de reprovar, condenar ou ferir, ergue oração sincera à Eterna Providência, suplicando perdão para os próprios algozes.
A caridade fora-lhe a companheira em todos os instantes…

Contudo, além do túmulo, ei-lo que volta, humilde, estendendo as mãos nobres e o coração celeste àqueles mesmos homens que o haviam deixado em supremo abandono, exclamando, sem mágoa:
― Em verdade convosco estarei para sempre, até o fim dos séculos!…
À vista disso, no caminho, lembra-te sempre de que a caridade pura – a que vence feliz – é sempre o amor perfeito a esquecer todo mal e a olvidar toda sombra, para somente amar, redimir e auxiliar na contínua extensão do bem, a se converter em luz.

(Confia e Segue, FCXavier/Emmanuel, edição GEEM.)

Biografia resumida de Joana, a Louca, em homenagem a Chico Xavier, seu eterno admirador

Impossível esquecer as noites em que conversava com o Chico até alta madrugada, quando os galos anunciavam a manhã. Então eu ia dormir um pouco, e ele… continuava trabalhando.
Em uma dessas ocasiões, recordo-me bem que, enquanto o toca-fitas transmitia “Serenata d’Amore”, bela canção de Mantovani, a saudosa alma abençoada conduziu-me aos tempos de transição entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna. Situando-nos na Espanha, desdobrou-me, com lágrimas nos olhos, o imenso tormento de Joana, a Louca, e o fez tão precisamente que eu lograva ver as cenas descritas.
Suas palavras ainda ecoam em meus pensamentos:
— Vou falar-lhe de Joana, a louca, incompreendida e torturada em sua longa existência.

Filha dos conhecidos reis católicos, Fernando e Isabel, herdou-lhes o trono de Castela e Aragão, apesar de não ser a sucessora direta. O falecimento dos irmãos mais velhos, João e Isabel, e do filho desta, Miguel, dera a Joana a coroa de rainha, por sucessão hereditária. Não pôde, entretanto, exercer seu mandato real por severas limitações que lhe impuseram o pai Fernando e, mais tarde, o filho Carlos V. Cada um deles assumiu a seu tempo as funções administrativas do reino.
Sempre foi ela, contudo, a rainha tão cara ao povo espanhol. Seu conceituado biógrafo, Manuel Fernández Álvarez, repudia o infeliz apelido e não a considera louca, e sim desventurada, já que sua vida foi eivada de sofrimentos, aos quais buscou resistir com dignidade de rainha. Chico ensinou-me a compreendê-la como médium.
Em 1496, casou-se com Filipe I, o Belo, herdeiro do imenso Sacro Império Romano Germânico. Filipe faleceu em 1506, aos 28 anos, deixando-a só, com seis filhos. Em grande desespero, Joana, reticente, pois não o queria enterrado, acabou autorizando o seu sepultamento no Mosteiro de Miraflores, em Burgos, mas logo se arrependeu e mandou exumarem-lhe o corpo…
Em seguida, passou a percorrer as cidades localizadas na planície da chamada Castela Velha, a partir de Burgos, onde seu marido falecera, até Tordesilhas. Acompanhava-a o caixão funerário com o corpo embalsamado do esposo. Permanecia sempre a seu lado, não permitindo, enciumada, que mulheres dele se aproximassem… Numa dessas peregrinações, nasceu Catarina, filha póstuma de Filipe, o Belo.
Três anos depois, quando Joana já estava em Tordesilhas, seu pai, Fernando, ainda rei de Aragão, proibiu suas peregrinações, exilando-a no Castelo Real da cidade, defronte ao Mosteiro de Santa Clara, em cuja igreja foi acomodado o corpo de Filipe. Seu decesso não foi devidamente esclarecido. Teria sido em razão de, após praticar o conhecido jogo da ‘péla’, haver bebido água muito gelada, o que lhe provocou fatal pneumonia? Morrera em consequência de contusão em uma perna no citado jogo, seguida de grave infecção, ou talvez vítima de homicídio por razões de estado, posto que, segundo Joana, seu marido fora assassinado?
Pelas janelas do palácio, Joana contemplava o cadafalco régio do esposo, assestado no centro da igreja. Com o falecimento de seu pai Fernando, em 1516, passou a ser também rainha de Aragão. Mas o filho Carlos V, como o fizera o pai, assumiu o poder real, mantendo a mãe presa no castelo por décadas, sob cruel vigilância, até falecer.
Mesmo assim, todas as noites, desde que o corpo do esposo fora guardado na igreja do mosteiro de Santa Clara, Joana o visitava, e conversavam longamente até altas horas. Ele, em espírito, e ela, ao lado de seu corpo inerte.
À época, entendia-se seu comportamento como loucura, mas a realidade é que a infausta rainha estava sendo preparada pelo Plano Espiritual para futuras missões no campo mediúnico, o que ocorreria poucos séculos mais tarde.
Joana, marginalizada também pelo filho Carlos V, jamais atendeu a apelos de revolta do povo que a queria efetivamente reinando e perdoou-lhes, ao pai e ao filho, por lhe usurparem a coroa.
Abandonada em Tordesilhas, cercada de carcereiros desumanos, indicados para vigiá-la, sua vida teve raros momentos de paz. Consolava-a a presença da filha Catarina, que não a abandonou até o casamento com o rei D. João III de Portugal. Sua alma se tranquilizava também com as conversas noturnas que mantinha regularmente com o esposo falecido e com a atenciosa presença em sua vida do bondoso confessor, Francisco de Borja.
Aprendeu a amar a cidade que a abrigava, inspirada no carinho de seus mil habitantes, e orgulhava-se do fato de Tordesilhas pertencer à região onde o valente povo, sob o comando de Pelágio, principiou a Reconquista, que se comcluiu na Batalha do Salado, em 1340, com o afastamento dos mouros da Península Ibérica.
Após 46 anos de prisão no castelo, sua morte chegara. Estavam-lhe contados os últimos dias na Terra. Sentia-se enferma e tinha os filhos ausentes, cada um servindo a países distantes da pequena Tordesilhas, na condição de rei ou rainha. Catarina, a filha mais próxima, a deixara para reinar em Portugal havia 30 anos, o que aumentou muito sua solidão.
Paralisada da cintura para baixo devido a uma queda, não mais se locomovia. Sua saúde, aos setenta anos, se desgastara e lhe impunha grandes sofrimentos. Comovia suas serviçais ver a bela senhora, maltratada pela vida, caminhar lentamente para tão triste fim…
Joana já não visitava o corpo do marido no vizinho Convento de Santa Clara e não mais contemplava o Douro, que, vindo do norte, corria próximo ao palácio, levando suas águas pela Espanha e por Portugal, até o Atlântico. Em suas meditações, não olvidava os dez anos de feliz convivência com o saudoso esposo. A afeição pelo marido se evidenciava pelo fato de ter sempre consigo, atada a uma corrente no pescoço, a chave do seu caixão. Somente ela poderia vê-lo na sepultura…
Na manhã de 12 de abril de 1555, a desventurada Rainha, a triste cativa de Tordesilhas, deixou seu cativeiro. Enfim, Joana, a Louca, estava livre! Lembra-nos Fernández Álvarez que sua triste sorte comoveu as gentes simples de seu tempo e nos segue comovendo.
Envolvida nos estertores da morte, pronunciou suas derradeiras palavras:
— Jesus, seja comigo!

Seu corpo e o do marido foram de início colocados lado a lado no Convento de Santa Clara, em Tordesilhas, e, somente 18 anos depois, trasladados para a Capela Real de Granada, onde Filipe I desejava ser sepultado. Enfim, Joana reencontrou a alma querida que tão cedo a deixara. Juntos foram felizes na Terra e puderam orgulhar-se dos filhos, todos reinando em outras plagas, perpetuando o seu sangue pelas monarquias da Europa.

Exatos 40 anos passados da noite em que ouvi as descrições de Chico Xavier sobre o calvário de Joana, a desventurada, observei, por mero acaso, aqui no GEEM, uma dedicada senhora regando as raízes de um girassol, que sucumbia à pobreza do solo. Aquela flor fenecendo, fez-me recordar, com saudade, da viagem de carro que fiz pelas estradas do interior da Argentina, em meados de 1978, ao lado de minha esposa e um casal de amigos.
Durante o longo percurso de Iguazú a Buenos Aires, contemplei, arrebatado, a natureza, sob o amplo pálio azul celeste. Na província de Santa Fé, ao entardecer, surpresos, deparamo-nos com um campo de girassóis, que a estrada cortava, e percorremos alguns quilômetros, admirando a tenacidade dessa flor tão enigmática.
O poente avermelhado prenunciava a escuridão da noite, e os girassóis, em homenagem à vida que Deus lhes dera, num jeito singelo de oração, voltavam-se à luz solar. Eram milhares de milhares de flores que reverenciavam o Criador, ao fim de mais uma jornada, preparando-se, no descanso da noite, para outro dia, em que acompanhariam, atentas, o Sol renascido em nova aurora.
Jamais esqueci tal imagem viva, plena de cores e luz.
E, naquela tarde, na Argentina, imerso na beleza do campo de girassóis e, sobretudo, na sublime mensagem que aquelas flores apaixonadas pelo Sol irradiavam, algo interior me levou a lembrar o que ouvira do Chico um ano antes.
Foram horas de colóquio iluminadas pelas palavras do médium de Deus, que me transportaram para séculos distantes, ensinando lições que a gente não esquece. Tudo aconteceu qual se fosse um filme, produzido por Jesus, com a direção artística de Chico Xavier!
Era notável seu respeito pelas heroicas lutas de Joana, que viveu saudosa dos filhos, dela retirados ainda pequenos para serem criados alhures, à exceção de Catarina, que manteve desesperadamente consigo até que o destino a levasse a Portugal.
Assim, a rainha, desprezada por pai e filho, passou os últimos trinta anos de prisão no castelo real de Tordesilhas, sem ninguém que lhe falasse ao coração. Estavam, sim, presentes apenas damas piedosas e um que outro mordomo do castelo que dela se compadecia.
Viveu singular história de amor semelhante à de Inês de Castro, dois séculos antes em Portugal. Por curiosa coincidência, ambas apenas conheceram dez anos felizes na Terra, ao lado de suas almas afins, dez anos que cessaram abruptamente: para Inês, com sua decapitação no Paço da Rainha em Coimbra, e para Joana, com a morte inesperada de Felipe I.
Inês acompanhou da Espiritualidade Pedro em seu reinado e Joana na Terra manteve com Felipe surpreendente relacionamento inter-existencial: ela encarnada e ele, em espírito, conversavam na solidão das noites, tendo como único expectador o caixão funerário, que abrigava o corpo do rei insepulto…

Não sei, Chico, sinceramente, se minhas palavras atendem aos seus sonhos de ouvir alguém dizer que Joana não era louca. Não, não era. Foi Joana a extraordinária intérprete do Plano Espiritual, que viveu numa época em que não se cultuavam os valores do espírito.
Emociona a história dessa alma. Como ao girassol que agoniza em nosso jardim, a terra que lhe tocou viver nessa existência era muito árida, mas teve a Deus (o Sol) a sustentá-la e as águas do Douro para diluir suas tristezas.
 

Caio Ramacciotti

Fontes de referência:
1) Relatos de Francisco Cândido Xavier.
2) Manuel Fernández Álvarez, Juana a Loca. (Madri, Es-panha: Editorial Espasa Calpe, S.A. – 2006).
3) Maria Guadalupe Valgañón Biancardi.

Notícias

1)Entre 15-18 de junho de 2017, a organização Caravana do Amor, de Santana do Parnaíba-SP, promoveu seu 1º Encontro de Mocidades Espíritas, nas cidades de Sacramento e Conquista – MG. Participaram do evento os jovens da Mocidade ‘O Semeador – Alphaville’ de Santana do Parnaíba, da Fraternidade e Luz de Uberaba e do Centro Assistencial São Vicente de Paula de Conquista-MG. Com adesão do GEEM foram distribuídos exemplares do livro Jovens do Além, com mensagens psicografadas pelo Chico e depoimentos dos familiares que as receberam. Parabéns aos bravos jovens presentes a esse sodalício de amor e caridade!
Nossos especiais cumprimentos a Celia Hermeto, da Fraternidade e Luz de Uberaba e a Felipe Carloni, fundador da Caravana do Amor e dirigente da Mocidade do Semeador – Alphaville, de Santana do Parnaíba. As fotos por eles enviadas dão ideia do brilho desse memorável encontro. (Ver fotos na página 20.)

2) Em busca de mundos habitáveis. A Agência Espacial Europeia (ESA) autorizou o lançamento de um novo observatório espacial para buscar planetas habitáveis fora do sistema solar. A missão Plato (sigla em inglês para Planetary Transits and Oscillations of stars) vai tentar descobrir quão comuns são os planetas parecidos com a Terra e recolher dados que possam responder se o sistema solar é incomum, ou até mesmo único no cosmo.
“A missão pode, eventualmente, levar à detecção de vida extraterrestre”, observa a ESA em comunicado à Universidade de Warwick, no Reino Unido, que terá uma equipe de astrofísicos participando do projeto. (Veja on line, 23 de junho de 2017.)
Kardec já se referia a outros mundos habitáveis no distante século 19!

3)A revista Superinteressante da Editora Abril, em sua edição de 30 de junho de 2017, data do aniversá-rio da desencarnação de Francisco Cândido Xavier, com a capa em sua homenagem, traz importante estudo realizado pela Stilingue Inteligência Artificial, São Paulo-SP-Brasil, grupo dirigido por Milton Stiilpen Jr e Rodrigo Helcer. O texto intitula-se “Inteligência artificial pôs à prova psicografia de Chico Xavier”.
Redes neurais artificiais analisaram obras do médium, morto há exatos 15 anos. E concluíram: fé à parte, Chico era um fenômeno mesmo. Em essência, não foi o Chico o autor das obras estudadas, e sim os espíritos considerados no estudo: Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos…
Detalhes o leitor encontrará no artigo de Milton Stiilpen publicado pela revista Superinteressante. Não deixe de ler!

4) A 11ª edição do MEDNESP – Congresso Nacional Médico-Espírita do Brasil reuniu 65 associações médico-espíritas do Brasil e internacionais. O evento, organizado pela AME- Brasil, ocorreu de 14 a 17 de junho, no Rio Centro, Rio de Janeiro-RJ.

 

Fotos da Caravana do Amor
(Ver notícia 1)

Pensamentos de Emmanuel

Caridade é o amor espontâneo e infatigável que colocamos em nossos menores gestos, para que a vida seja um cântico de progresso e alegria para todas as criaturas, exaltando em toda parte a eterna glória de Deus.

O sol renascente, cada manhã, ensina-nos, em silêncio, que a vida começa todos os dias, e que, em todos os dias, é possível refazer o destino pela reparação voluntária de nossos próprios erros.

Dia a Dia com Chico e Emmanuel – Francisco Cândi-do Xavier/Emmanuel.

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