Revista Comunicação #234 – Julho 2020 / Setembro 2020

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A Palavra de Emmanuel

(O pensamento do mentor espiritual de Chico Xavier a respeito de temas da atualidade: conselhos e ponderações sobre as atribulações de nossos tempos)

ENTENDE E VIVE

Repara a tolerância celeste em derredor de teus passos… em todo o chão que pisas, há louvor à esperança.

Aqui, é a vergôntea frágil que se fará ramo forte; ali, é o fruto verde buscando amadurecer.

Além, é a gleba seca aguardando adubo em formação para cobrir-se de flores e, mais além, é o corpo triste do charco esperando a drenagem que dele fará terra útil.

Nem pressa, nem violência.

Em toda faixa de solo, é a paciência das horas com o auxílio incessante da natureza.

Vale-te, assim, da lição para entender e servir.

Não disputes a condição daquele que se esconde na carapaça do próprio orgulho para exclamar: – “eu perdoo”, exibindo virtudes imaginárias.

Acalma-te, cada dia, ao pé de cada ofensa e auxilia o melhor que possas.

Lembra-te de que tanto ocorrem mazelas na mente, quanto chagas no corpo.

E pensa que se há moléstias visíveis, medicáveis em tempo próprio, enfermidades ocultas podem surgir adentro do cosmo orgânico, flagelando sentimentos e aspirações, sem possibilidade de serem vistas para o socorro adequado.
Assim, diante da falência ou da deserção, do golpe ou da crueldade, silencia e socorre sempre, para que, mais tarde, nos óbices do caminho, não te faltem luz e visão ante a probabilidade da queda nos mesmos erros.

Só o amor consegue cobrir a multidão de nossas deficiências.

Sobretudo, recorda que, se te não é possível improvisar o heroísmo ou a santidade em ti mesmo, podes compreender e servir, para que por tua bondade e entendimento de hoje se faça a vida amanhã mais elevada e melhor.

Abençoa Sempre GEEM

Leitor Amigo

 

Ontem, 30 de junho, ficou marcado em nossas lembranças por ser o dia em que Chico Xavier nos deixou. Para rememorar tão marcante data, a de sua volta ao plano espiritual, nesta edição trazemos o expressivo texto de Adelino da Silveira, amigo de incondicional de Chico Xavier. A História de Jorge retrata uma de suas constantes visitas ao nosso saudoso Chico.

A despeito de diversidade de posição, ante fato doutrinário sem relevância, temos estreitos vínculos de amizade e o considero, na atualidade, dos mais importantes divulgadores da doutrina. Temos em comum algo essencial: ambos veneramos o Chico.

Com sua interessante crônica, que relata aspectos da vida do Jorge, Adelino nos comove e nos conclama à simplicidade e ao trabalho em benefício dos carentes do pão espiritual, em perfeita identidade com os ensinos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Estivemos juntos no 1º Encontro dos Amigos de Chico Xavier em 2008, na cidade de Uberaba-MG, e sua inspirada alocução comoveu e levou às lágrimas a imensa plateia presente ao evento.

Adelino, nosso recente encontro em minha casa marcou-me muito, pois falamos longamente de nossa vivência pessoal com o médium de Deus.
Certamente, nossos leitores que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da vida do Jorge vão encantar-se com a grandeza de duas criaturas:

— Ele, Jorge, tão pobre de recursos e tão nobre de espírito E Chico, a alma bondosa, que por décadas e décadas, trouxe-nos, com singeleza, os ensinos de Jesus na Gali-leia, em sua divina peregrinação, com os apóstolos e Maria Madalena, às margens do Tiberíades, inebriados com o suave perfume que, vindo dos Céus, impregnava a atmosfera que os envolvia.

Caio Ramacciotti/GEEM
São Bernardo do Campo, 1º de julho de 2020.

A História de Jorge

Ao longo dos anos em que ia a Uberaba, conheci muita gente.
Gente boa, gente meio boa e gente menos boa. Algumas, o tempo vai apagando lentamente, mas jamais terá força suficiente para apagar de minhas lembranças a figura encantadora que vocês vão passar a conhecer.Numa daquelas madrugadas, quando as reuniões do Grupo Espírita da Prece se estendiam até ao amanhecer, vi-o pela primeira vez. Naquelas filas quase intermináveis que se formavam para a despedida ou para uma última palavrinha ainda que rápida com Chico, ele chamou-me a atenção pela alegria com que esperava a sua vez.Vinha com passos cansados, o andar trôpego, a fisionomia abatida, mas seus olhos brilhavam à medida que se aproximava do médium. Não raro, seu contentamento se traduzia em lágrimas serenas, mas copiosas.
Trajes pobres, descalço, pés rachados, indi-cando que raramente teriam conhecido um par de sapatos. Calça azul, camisa verde, com muitos remendos; um paletó de casimira apertava-lhe o corpo franzino. Pele escura, cabelos enrolados, nos lábios uma ferida. Chamava-se Jorge.
Creio que deve ter tomado poucos banhos durante toda a vida. Quando se aproximava, seu corpo magro, sofrido e mal alimentado exalava um odor desagradável.
Em sua boca, alguns raros tocos de dentes, totalmente apodrecidos. Quando falava, seu hálito era quase insuportável. Ainda que alguém não quisesse, tinha um movimento instintivo de recuo. Quando se aproximava, tínhamos pressa em dar-lhe algum trocado para que ele fosse comprar pipoca, doce ou um refrigerante, a fim de que saísse logo de perto da gente.
Jorge morava com o irmão e a cunhada num bairro muito pobre – uma favela, quase um cortiço. Seu quarto era um pequeno cômodo anexado ao barraco do irmão. Algumas telhas, pedaços de tábuas, de plásticos, folhas de lata emolduravam o seu pequeno espaço.
O irmão e a cunhada eram boias-frias. Jorge ficava com as crianças.
Fazia-lhes mingau, trocava-lhes os panos, assistia-os. Alma assim caridosa, acredito que sofresse maus tratos. Muitas vezes o vi com marcas no rosto, e, ainda hoje, fico pensando se aquela ferida permanente em seu lábio inferior não seria resultante de constantes pancadas.
Pois o Chico conversava com ele, cinco, dez, vinte minutos!
Nas primeiras vezes, eu pensava: “Meu Deus!, como é que o Chico pode perder tanto tempo com ele, quando tantas pessoas viajaram milhares de quilômetros e mal pegaram sua mão?! Por que será que ele não diminui o tempo do Jorge, para dar mais atenção aos outros?”
Somente mais tarde fui entender que a única pessoa capaz de parar para ouvir o Jorge era ele, o Chico. Em casa, o infeliz não tinha com quem conversar; na rua, ninguém lhe dava atenção. Quase todas as vezes em que com Chico estive, lá estava ele também.
Assim, por alguns anos, habituei-me a ver aquele estranho personagem que aos poucos me foi cativando.
Hoje, passados tantos anos, ao escrever estas linhas, ainda choro. A gente corre o risco de chorar um pouco, quando se deixou cativar, não é mesmo? Nunca ouvimos de sua boca qualquer palavra de queixa ou revolta.
Seu diálogo com o paciente médium era comovente e enternecedor.
— Jorge, como vai a vida?
— Ah, Tio Chico! Eu acho a vida uma beleza!
— E a viagem, foi boa?
(Chico assim falava, porque o Jorge morava muito longe)
— Muito boa, Tio Chico! Eu vim olhando as flores que Deus plantou no caminho para nos alegrar.
— Do que você mais gosta de olhar, Jorge?
— O azul do céu, Tio Chico. Às vezes penso que o Sinhô Jesus tá me espiando por detrás de uma nuvem.
Depois, o visitante falava da briga dos gatos, da goteira que molhou a cama, do passarinho que estava fazendo ninho no seu telhado.
Quando pensava que tudo havia terminado, Chico ainda dizia:
— Agora, o nosso Jorge vai declamar alguns versos.
Eu chegava até me virar na cadeira, perguntando a mim mesmo: “Onde é que o Chico arruma tanta paciência?” Jorge declamava um, dois, quatro versos.
Chico ao final da conversa, disse:
– Bem Jorge, agora, para a nossa despedida, declame o verso que mais gosto.
— Qual, tio Chico?
— Aquele da moça.
— Ah, Tio Chico! Já me lembrei. Já me lembrei.
Naquelas horas, o centro continuava lotado. As pessoas se acotovelavam, formando um grande círculo em torno da mesa.
Jorge colocava, então, o colarinho da camisa para fora, abotoava o único botão de seu surrado paletó, colocava as mãos para trás, à semelhança de uma criança quando vai declamar na escola ou perante uma autoridade, olhava para ver se o estavam observando e sapecava, inflado de orgulho:

Menina, penteia o cabelo.
Joga as tranças para a cacunda.
Queira Deus que não te leve
de domingo pra segunda!

Quando terminava, o riso era geral.
Ele também sorria. Um sorriso solto e alegre, mas ainda assim doído, pois a parte inferior de seus grossos lábios se dilatava, fazendo sangrar a ferida.
Aí, ele se aproximava do médium, que lhe dava uma pequena ajuda em dinheiro. Em todos aqueles anos, nunca consegui ver quanto era.
Depois, colocava o dinheiro dentro de uma capanga, onde já havia guardado as pipocas, os doces, dando um nó na alça do pano.
Para se despedir, ele não se abraçava ao Chico: ele se jogava, sim, todo por inteiro, em cima do Chico! Falava quase dentro do nariz do Chico e eu nunca o vi ter aquele recuo instintivo como eu tivera tantas vezes.
Beijava-lhe a mão, o qual também beijava a mão e a face dele, ao que ele retribuía, beijando os dois lados da face do Chico, onde ficavam manchas de sangue deixadas pela ferida aberta em seus lábios.
Nunca vi o Chico se limpar na presença dele nem depois que ele se tivesse ido. Eu, muitas vezes, ao chegar à casa dele, molhava um pano e limpava o que passamos a chamar carinhosamente de “o beijo do Jorge” …
Não saberia dizer quantas vezes pensei em levar um presente àquele pobre irmão – uma camisa, um par de sapatos, uma blusa. Infelizmente, fui adiando e o tempo passando. Acabei por não lhe levar nada.
Lembro-me disto com tristeza e as palavras do Apóstolo Paulo se fazem mais fortes nos recessos de minha alma:
— Façamos o bem, enquanto temos tempo.
Sim, enquanto temos tempo. De repente, fica tarde demais…

Jorge desencarnou. Desencarnou numa madrugada fria, completamente só em seu quarto. Esquecido do mundo, esquecido de todos, mas não de Deus.
Contou-me o Chico que foi este nosso irmão de pele escura, cabelos enrolados, ferida nos lábios, pés rachados, mau cheiro e mau hálito, que ao desencarnar, Jesus Cristo veio pessoalmente buscar.
Entrou naquele quarto de terra batida, retirou Jorge do corpo magro e sofrido, envolto em trapos imundos, aconchegou-o de encontro ao peito e voou com ele para o espaço, como se carregasse o mais querido dos seus irmãos!
Comovido, ante esse tão belo relato do Chico, recordei-me das palavras do Mestre:
— Eis que estarei convosco até o fim dos séculos. Não vos deixarei órfãos.
Ele não faria uma promessa que não pudesse cumprir.

Adelino da Silveira

Paz

Quem diz “paz em nome de Cristo”, nem sempre observa que a paz, na maioria das vezes, nasce de perigosas situações.
Pensemos em Jesus nas últimas horas do convívio com as criaturas humanas. Preso na véspera do Supremo Sacrifício, trazia o espírito preocupado ante a deserção dos discípulos;
— é conduzido ao cárcere onde sofre agressões e vexames;
— passa a noite injuriado e açoitado pelos agentes do Sinédrio;
— é vestido pelos próprios verdugos, de modo a que a multidão não lhe veja as feridas que eles próprios lhe abriram no transcurso da noite;
— é duramente humilhado na casa de Antipas;
— volta ao julgamento, e Pilatos, perante o público que o cobria de impropérios, coloca-o inferior a Barrabás, o criminoso;
— é obrigado a carregar a cruz do suplício e, quase cambaleando ao peso do lenho, após depô-lo no chão, foi nele cruelmente crucificado.
Esse mesmo Cristo é que volta das sombras do túmulo e fala aos amigos envergonhados: — A minha paz vos dou…
*
Quem estiver esperando a paz, e especialmente a paz de Cristo, recorde o preço da paz obtida por ele, o Divino Mestre e Senhor, e acabará reconhecendo que a paz, muitas vezes, vem até nós, mas através das mais dolorosas e difíceis situações.
Emmanuel

A Semente de Mostarda/GEEM

Notícias

1) LANÇAMENTO DE LIVRO DE CHICO XAVIER
– O GEEM lançou em abril passado Páginas de Gratidão, com excelentes discursos de Francisco Cândido Xavier, proferidos quando do recebimento dos títulos de cidadania de São Bernardo do Campo, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Araguari e Belo Horizonte. Sua oratória espontânea, sem qualquer consulta, é repleta de incríveis revelações. Em Campinas, manifestou-se surpreso respeitado historiador, cujo depoimento consta do livro.
Vale a pena ler obra tão rica que nos legou Chico Xavier. Cessão de Direitos concedida pelo autor ao GEEM Grupo Espírita Emmanuel. A triste situação gerada pelo corona vírus limitou a divulgação da obra.

2) A 40ª edição da Confraternização Espírita do Maranhão (CONESMA) ocorreu nos dias 23 a 25 de fevereiro de 2020 sobre o tema: “A conexão entre as três Revelações”. (FEB)

3) Em Dourados/MS realizou-se o 4° Encontro de Estudos Espíritas no Carnaval de 2020 na UEAK (União Espírita Allan Kardec), transmitido ao vivo pela Rádio Portal da Luz.
(radioportaldaluz@gmail.com).

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I – Departamento Editorial Batuíra

– Vida e obra de Francisco Cândido Xavier
– Edição de livros e da revista Comunicação®
– Centro de Estudos Chico Xavier
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São Bernardo do Campo (segunda-feira às 20h e sábados às 16h)

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(AM-1260 kHz)
Rádio Morada do Sol – Araraquara – SP
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II – Departamento Filantrópico Nosso Lar

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